Para contextualizar aqueles que não estavam presentes, essa fic é uma brincadeira com o Sunao, o Will e a Liu, da época do fórum antigo.
O Sunao narrava uma aventura na qual Anya e Kaná (os personagens da Liu e do Will, respectivamente) tinham tido uma discussão acalorada e no final desta, Kaná tinha segurado os pulsos de Anya, a jogando contra a cama. Os dois desataram a rir e a cena foi em frente.
Eu fiz um comentário a respeito do quão shipável tinha sido a cena, mas o nosso narrador na época disse que, pelos dois serem amigos, não havia razão para o ship.
Então, em parceria com Will e Liu, eu tive a ideia de mostrar o ship sendo possível, resgatando meu talento perdido de Ficwriter.
Vocês podem conferir o resultado abaixo. Boa leitura e bom divertimento. 
Youta

Aos Pés do Sagrado Relógio


Alguns minutos tinham se passado desde que ele havia descido. Aos degraus que conduziam a sua morada sagrada, enquanto se afastava do salão de Quíron, a Casa de Sagitário.
 
Durante o caminho, Kaná ia pensando. A cena anterior agora tomava outro espaço em sua mente. Era verdade que ainda pensava nos eventos que sabia que se avizinhavam, mas desta vez outra coisa ocupava um espaço maior em sua mente.
 
A cena em que prensara Anya contra a cama agora era vista sob outro ponto de vista pelo Cavaleiro de Gêmeos, tão acostumado a enxergar as coisas sobre ângulos diversos. Tomado pela fúria e pelo desespero naquele momento, ele não analisara como a amiga crescera, coisa que neste momento lhe passava pela cabeça. Anya tinha se tornado uma bela mulher. Apesar de estar levado pela fúria e pelo calor do momento, não lhe passara despercebido à maciez aveludada de sua pele, o discreto perfume natural da amazona, uma mistura de almíscar com toda a classe de um Chanel, e muito menos o calor da respiração da moça. Agora percebera o quanto lhe fizera bem deitar-se ao lado dela naquele momento de descontração.
 
Já na casa de Gêmeos, Kaná se pôs a pensar com mais cuidado naquela que não notada, naquela que nublava seus sentidos devido aos longos anos de amizade. A cabeça dele ainda doía da ressaca, o que tornava seu raciocínio mais lento, mas não menos aguçado. Pediu à Galatéia que lhe trouxesse um remédio para dor de cabeça e continuou pensando.
 
Anya tinha se desenvolvido e desabrochado como uma linda flor, como o mais belo Cardo que ele já havia visto. Cheio de espinhos na base e no corpo, mas com a mais bela diversidade de pétalas furta-cor e púrpura. Rindo, ele soltou uma frase, enquanto tomava o remédio que a serva o trouxera:
 
- E não é que aquela baixota ficou uma gracinha?
 
- O quê, meu senhor? – Perguntou Galatéia, talvez curiosa com a frase proferida por Kaná, talvez achando que ele a chamasse para mais uma tarefa.
 
- Hein? Não... Nada! Obrigado, Galatéia. – Respondeu ele, depressa demais, sentindo suas faces se afogueando subitamente, como uma criança que é pega com a mão no pote de doces.
 
Por que reagira assim? O que estava acontecendo? Por que Anya não saía da sua cabeça? Não sabia por que, mas precisava vê-la de novo. E logo.
 
 
~X~
 
 
Ele tinha saído há exatos dez minutos. A pressão que recebera em seus ombros era leve e pessoas com seu treinamento aguentariam golpes mais fortes que aquele. Além disso, o outro era asseado, no mínimo. Ela sabia disso, a despeito das brincadeiras que fazia questionando isto. Então por que Anya sentia o toque firme de Kaná em seus ombros ainda? Então por que o cheiro do Cavaleiro de Gêmeos estava em toda parte? Então por que não parava de pensar nele?
 
Sem entender, Anya decidiu estudar um pouco, afinal precisava pesquisar sobre os futuros inimigos. Mas logo percebeu que não conseguiria se concentrar. A bênção de Quíron era uma maldição agora, ela não conseguia pensar com clareza. Uma enxurrada de informações e lembranças todas com o Geminiano presente tomava conta de seu cérebro. Tentou se focar nas pesquisas, na ciência contida naqueles livros, mas seu pensamento estava longe. Ela estava preocupada com aquele “cabeça oca”, afinal ele descera sem medicação. Além disso, ele passava por uma provação grande e não queria contar a Anya o que era. Mais que isso, não podia. O que seria tão importante que não podia ser compartilhado com ela? Anya dissera que estava tudo bem, que entendera, mas ela ainda queria respostas. Cansada, Anya deslizou seu corpo e apoiou sua mão sobre os braços. Queria que Kaná as desse. Queria que Kaná estivesse ali ainda. Assim, quem sabe, sua mente se concentrasse, mesmo com ele tentando fazer o contrário. Ela deu um suspiro exasperado e disse em voz alta, para si mesma:
 
- Onde você está se metendo, seu cabeça dura?
 
- Onde QUEM está se metendo, senhora?
 
Anya se ergueu em um sobressalto. Emilia e Elise estavam ali, repletas das compras em Rodorio. Anya estivera tão distraída que não as notara chegando. Elas estavam sorridentes e pareciam satisfeitas. Anya não respondeu a pergunta, ficou olhando para as servas, se recuperando do susto. Emilia então disparou:
 
- O senhor Kai Nairn ainda está aqui, senhora? Trouxemos o remédio dele.
 
- Não. Ele já se recuperou e desceu as escadas. Podem deixar os suprimentos aí, assim podemos utilizar em caso precisarmos. – Respondeu Anya, já refeita do susto momentâneo.
 
As servas pareceram decepcionadas e novamente Anya não entendeu o porquê, mas decidiu que não pensaria nisto por enquanto. Mas aquilo era estranho. Estava pensando mais em Kaná do que deveria. Sua intuição dizia que tinha que ficar por perto, verificar se precisava dela. Talvez fosse um sinal de que deveria visitá-lo e vigiá-lo, só por via das dúvidas.
 
 
~X~
 
Ao cair da noite, Anya decidiu que iria ver como Kaná estava, antes que uma ameaça de grandes proporções se avolumasse. Tinha que aproveitar o tempo livre para ficar próxima dele e ajudá-lo no possível.
 
Mas no momento em que sairia da casa de Sagitário e principiava a descida, deu de cara com Kaná, que subia as escadas e enveredava para a entrada da casa zodiacal que acabara de deixar.
 
Seu coração pulou no peito.
 
E o de Kaná também.
 
Sem conseguir dormir, ele subira as escadas, sem saber direito o que dizer, sem pensar. Só sabia que deveria conversar com Anya de novo, ver Anya de novo. Assim, começou o caminho e quando estava quase às portas da casa de Sagitário, ainda pensando no que viera fazer ali, a amazona aparecera, deixando-o novamente sem ação. Ele a olhou por um momento, ambos com as respirações aceleradas, petrificados, apenas com a brisa como testemunha.
 
Foi então que ambos quebraram o silêncio, falando ao mesmo tempo:
 
- O que você está fazendo aqui?!
 
Anya viu aí um trunfo, que usou no mesmo momento:
 
- Esta é a minha casa! É normal eu estar aqui! O estranho é você estar aqui!
 
Sua voz saíra algumas oitavas acima do que ela esperava, sem que ela entendesse a razão. Quanto a Kaná, ele realmente estava pensando no que responder. Ele também queria saber o que ele estava fazendo ali, mas resolveu devolver a pergunta:
 
- Normal seja que você esteja na sua casa, mas não com a armadura nas costas, pronta pra sair. Acho que você ia para algum lugar, mas por causa das pernas curtas, estava começando ainda, né?
 
Aquilo era um gracejo, mas Kaná não queria brincar. Ao contrário, estava preocupado de onde a amiga poderia estar indo àquela hora da noite, sozinha. Logo em seguida, se recriminou. A força de Anya era incontestável, mas ainda sim, se sentia incomodado que ela saísse sem avisá-lo.
 
Anya respondeu. Sua voz saiu agressiva:
 
- Eu estava saindo sim... Eu ia até a casa de Gêmeos para ver como um certo amigo meu estava, mas pelo visto, ele está chato como sempre. – Anya bufou e virou as costas, com muita raiva. Ela estava preocupada com ele e era assim que ele reagia? Decidiu voltar à casa de Sagitário e deixar que Kaná descesse novamente. Ele já estava bem mesmo...
 
Por Atena, como ele nunca tinha reparado como Anya ficava linda irritada? Talvez já tivesse, e por isso a aborrecesse com tanta frequência. Suas maçãs do rosto mostravam um desenho belo, as sobrancelhas arqueavam e seus olhos emitiam um brilho tenaz, que ficava ainda mais belo à luz das estrelas. Ele decidiu continuar, não queria que ela fosse embora.
 
- Ei, ei. Não precisa ficar brava! Own, que gracinha, tava preocupada comigo, Anyazinha, tava? – Kaná fazia troça, mas desta vez tinha outro objetivo. Queria que ela ficasse, queria que se irritasse mais. Mesmo que doesse depois, mesmo que ela o golpeasse, valeria a dor do soco ver aquele rosto por mais um tempo.
 
E Anya reagiu. Furiosa, ela se voltou, pronta para golpeá-lo no rosto com um cruzado. Imediatamente, Kaná mudou de ideia sobre valer a pena tomar um soco e velozmente tentou se defender, segurando o pulso de Anya. O movimento foi rápido e ele conseguiu bloquear o golpe da amazona. Mas ela não se deteve ali. Ergueu o outro braço preparando um gancho, mas desta vez, pressentindo o perigo, Kaná o segurou antes que ela pudesse erguê-lo. Vendo que Anya estava furiosa, ele arremeteu os últimos degraus que lhe faltavam e a encostou em uma pilastra, para que ela parasse:
 
- Calma, Anya, é só uma brincadeira. Só uma brincad...
 
E ele se deteve. Parou de falar para observar. Anya ainda se debatia com raiva, mas logo parou de se mover também. Graças à manobra do Geminiano, os dois estavam muito próximos agora. Seus rostos estavam a centímetros um do outro, as respirações estavam aceleradas. A de Anya pela raiva, a de Kaná pelo esforço. Kaná soltou a mão esquerda de Anya, como que mesmerizado pelo seu rosto, agora tão próximo do seu. As respirações de ambos se misturavam. Ele acariciou o rosto dela com as costas dos dedos indicador e médio, e com eles afastou uma mecha do cabelo em desalinho da amazona para trás de seu lóbulo, expondo a pele alva da russa ao luar.
 
Anya não afastou Kaná. Pelo contrário, ergueu a mão que ele soltara e a apoiou no ombro do escocês. Ela não entendia o porquê tanta proximidade, mas não queria que ele pudesse distância entre os dois. O calor do seu corpo, sua força viril segurando seu punho estava longe de ser dolorosa. Era agradável, como se aquelas mãos não soubessem ser agressivas. Pelo menos não com ela. A sensação do calor do corpo de Kaná fazia Anya se lembrar do alento de seus cobertores na Rússia, mas aquele toque a fazia pensar em coisas que nunca pensara antes. Como por exemplo...
 
Kaná não aguentou por muito tempo. Encarou Anya por mais alguns segundos e então, moveu sua cabeça para mais próximo dela. Anya respondeu, recuando parcialmente o crânio, como que antevendo o que aconteceria, mas como isso dando espaço para que o homem de cabelos azulados se aproximasse mais.
 
Kaná envolveu Anya em seus braços. Ela sentiu o calor do corpo dele mais do que nunca agora. Sua razão dizia que não devia se deixar levar, já percebera o que estava acontecendo, e mesmo relutante de início ela sente que não consegue mais lutar contra as aceleradas batidas de seu coração. Então, sua mão, apoiada sobre o ombro de Kaná envolve seu pescoço e seu rosto se aproxima do dele novamente. E então, os lábios de ambos se tocam.
 
O beijo é profundo, quente, envolvente. Anya sente como se estivesse flutuando, como se estivesse tocando as constelações. Seu coração martela seu peito, mas as mãos de Kaná parecem tornar as coisas mais fáceis, deixando-a mais relaxada. O escocês, por sua vez, se deliciava com os lábios virginais da russa. Ela tinha um toque perfeito, uma suavidade única, uma sensação indescritível.
 
As línguas dos dois duelaram em suas bocas, com o beijo aumentando de intensidade. Kaná soltara a mão de Anya que ainda mantinha presa quando a abraçara, e isto só serviu para que ela o abraçasse e o trouxesse mais para perto de si. Suas mãos agora se ocupavam em acariciar a nuca do Geminiano e passear pelos ombros dele. As mãos de Kaná por sua vez, mantinham-se estáticas, uma apoiando o crânio de Anya, e a outra atada a cintura dela. O beijo não parava, deixando ambos sem fôlego e com ímpeto de prosseguir. Foi quando ambos ouviram um barulho em uma árvore próxima, alguma ave noturna alcançando voo, ou um galho caindo. Foi o suficiente para quebrar o transe de Anya e fazê-la empurrar Kaná. Ambos estavam ofegantes e a russa rapidamente virou as costas e entrou em sua casa, sem dizer nada.
 
Kaná se levantou atônito. Ele acabara de beijar Anya. Ele acabara de beijar Anya e na frente da casa de Sagitário. Ele acabara de beijar Anya na frente da casa de Sagitário e tinha adorado cada segundo. Certo, era hora de descer. Aquilo não era normal. Talvez ainda estivesse bêbado.
 
Anya por sua vez, entrou correndo em seu quarto e fechou a porta. Ofegante, ela virou-se de costas para a porta e foi deslizando até o chão, até se sentar com os joelhos dobrados. A ponta de seus dedos tocou seus lábios, ainda quentes do beijo. Queria descer atrás dele e bater nele, ou beijá-lo novamente, ela não sabia. Anya então olhou as estrelas pela janela e se questionou:
 
- Atena, o que está acontecendo?
 
E era a mesma coisa que o cavaleiro de Gêmeos se perguntava naquele momento em seu banho, olhando para o chão do banheiro. Estava curvado sob a água quente, que caía em suas costas, fazendo com que seus cabelos molhados cobrissem parcialmente seu rosto nas laterais. Olhando o chão, pensou um pouco mais e suspirou. Era melhor ir dormir. Ou subiria aquelas escadas de novo.
Fanfic Kanya +14 Capítulo 1 - Aos Pés do Sagrado Relógio Kanya10