Caminhar ao lado da amazona também era confortável também, de modo que seus ombros relaxaram. Ele a seguiu sem pressa para fora do metrô e se permitiu caminhar ao lado dela, segurando sua mão para que ela não se perdesse.
O contato dos dois durou pouco. O sorriso de contentamento de Lygia e sua postura mudaram drasticamente, de modo que ela soltou a mão do lupino e recuou um passo, como que por alarme.
Foi só por um segundo que a amazona perdeu a compostura, mas o movimento a traíra. Fora rápido demais, de modo que ela realmente parecera assustada com algo
Lygia notou as narinas de Hank se contraindo e se expandindo quando ele fazia uma expressão de incredulidade, que ondulou por seu rosto por um espaço de tempo tão curto quando o recuo de Lygia tinha sido. Ele continuou andando com ela e ela o respondeu na conversa, mas ambos sabiam que aqueles dois segundos e meio tinham significado algo que eles preferiram ignorar.
– Sim, treinos urbanos. Hank repetiu sem se alterar com a exasperação da amazona. – Ele realmente só veio para treinar, mas eu explorei os parques daqui e as montanhas próximas de Tóquio Leste. E tenho certeza que sua noção de diversão aqui é mais apurada que a de qualquer pessoa, Lygia.
Hank parecia confiar no senso de moda de Lygia, por alguma razão que a mesma desconhecia, mas que parecia ser útil e evitar atrasos. Quando ele vestiu a peça e se recostou à parede, a jaqueta de couro sintético parecia fazer parte do visual dele como se ele tivesse vindo com ela.
Ficara perfeito! Ele realmente estava muito elegante e despojado, e as duas coisas ao mesmo tempo, o que era perfeito.
Sem interromper o raciocínio de Lygia, Hank foi até o caixa e acertou ele mesmo a conta pela jaqueta. Parecia ter gostado dela de verdade, a ponto de não considerar essa peça de vestuário parte do que Lygia iria comprar para os cavaleiros. A moça do caixa sorria abobalhada para ele, admirando em silêncio a aparência e o carisma de Hank. O rapaz não percebeu, aparentemente. Então, se voltou a ela quando a amazona concluía o raciocínio e desabafo a respeito de Chara e respondeu suas dúvidas e inquietações:
– Não. Ele não pensa em se aposentar. É para o caso de morte mesmo. Ele disse sem mudar a expressão calma, seguindo a moça para continuarem o caminho. – E não, ele não é desagradável quando está sozinho ou com o grupo de caça. Chara é só um homem focado. Cães de Caça é capaz de saber o que pensam a respeito dele, o que faz com que ele seja a melhor pessoa na tomada de decisões. Ele não é um pau mandado. Ele fez o que fez por que Milenna, a líder do grupo dos caçadores deu uma ordem expressa que somente outro dourado poderia revogar, que foi o que ocorreu. Hank parecia ter sido informado sobre o ocorrido com Bunny, ou aquilo já era a mais nova fofoca entre os cavaleiros. – E para ser franco, Lygia. Hank ainda mantinha a expressão calma. – Esta é a opinião de Chara ao meu respeito. Não é o que penso. O cavaleiro de Libra desta geração combateu na geração anterior com uma armadura de bronze. Se ele pôde fazer isto, eu também posso. Tenho orgulho da minha constelação e treinamento. Não desejo mudar. E sobre aturar um mestre “chato”... O lobo se permitiu um sorriso. – Eu lhe poderia lhe perguntar o mesmo. O seu mestre não me parece um exemplo de trato pessoal. Mas eu não vou. Eu quero saber outra coisa...
Eles voltaram às ruas, já começando a se encaminhar para onde deveriam ir. Andaram um pouco, sem dizer nada.
Mas este tempo também durou pouco, como o contato anterior deles.
Então, Hank, que já não tocava a mão dela como antes, simplesmente disse:
– Durante a minha vida como índio, meu treinamento como guerreiro e minha jornada como caçador, eu aprendi a sentir e identificar um cheiro, por mais fraco e leve que fosse. E aprendi a gravá-lo e a nunca me esquecer dele.
Ele fez uma pausa.
– É um cheiro acre, meio ácido às narinas e um pouco desagradável, que aumenta conforme um certo estado de espírito se manifesta no alvo. Um cheiro que sempre vem acompanhado do estresse.
Ele fez uma nova pausa, agora mais longa.
– O cheiro do medo.
Ele fez uma pausa e respirou fundo, concluindo então:
– Quando estávamos caminhando e eu toquei sua mão, você recuou e eu senti um fragmento deste cheiro em você. Por favor, Lygia. Eu sei que isto não é importante para a missão, mas por favor...
O rapaz pardo olhou para o chão triste e soltou a voz quase em um sopro:
– Por favor, diga que não tem medo de mim...