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Criar, sonhar, jogar .É mais que lógico é chocológico!


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Meio do nada, Novo México, Estados Unidos

21 de junho de 2069, 13:00 – seis meses antes da convocação de Athena


Eu já havia tido ideias melhores...

Uma chuva fina mantinha tudo encharcado ao redor. Ok que “tudo” se resumia à grama seca, barro (que antes da chuva era poeira), e algumas pedras aqui e lá. No começo da viagem, segui-los pelo teto do ônibus pareceu uma ótima solução.

Eles não me viam, eu não estava apertada dentro de uma caixa com galinhas, pessoas suadas e potenciais inimigos, e o clima até que estava agradável; poderia até pegar uma corzinha graças ao short ofensivamente curto e camiseta de alcinha que eu usava.

E aí começou a garoa. No início, um bom refresco. Conforme eu ouvia as janelas do ônibus se fechando, agradeci por ficar lá. Mas agora, algumas horas naquela situação... o tédio era insuportável. Até onde aqueles malditos iam? Tanto faria descer ali, vinte quilômetros atrás, ou trinta quilômetros à frente.

O quão capazes ele seriam de discernir meu cosmo? Será que se eu apenas corresse atrás do veículo seria suficiente? Bom... eu ainda não possuía habilidade suficiente para borrar minha imagem para 40 pessoas ao mesmo tempo, ainda mais em velocidade. Espreguicei conforme o veículo freava, e rezava para que fosse o ponto deles, e não mais um superaquecimento do radiador.

Finalmente, o ônibus parou por completo em algum ponto entre o nada e lugar nenhum. Um poste fincado ao lado da estrada, que bem poderia ser um pedaço aleatório de madeira, fazia as vezes de ponto. Usando a garoa ao meu favor, distorci minha imagem, espiando quem desceria.

Cinco homens. Não mais, não menos. Se mais pessoas descessem junto com eles, eu estaria encrencada. Meu plano não ia tão longe assim.

E então, como que ouvindo minhas preces, os cinco desceram. Portavam as mesmas incomodas capas pesadas, que eu não conseguia imaginar como que eles suportavam o calor. Comparada com meus trajes mínimos, era difícil nos imaginar na mesma latitude.

Olhei para todas as direções, e realmente não havia nada ali. Aquilo me cheirava à armadilha, mas eu já sentia o ônibus abaixo de mim começar a se mover. O grupo começava a se afastar da estrada, caminhando sobre a grama seca, e eu precisava me decidir logo.

Oh deusa... que assim fosse. Eu podia lidar com cinco pessoas à distância. Saltei do teto do ônibus, aproveitando a garoa para refletir a luz de uma forma a me deixar convenientemente oculta. Ao mesmo tempo, sequei uma pequena área do chão, pousando sem fazer barulho. Comecei a caminhar atrás deles, me aproximando o máximo que eu me atrevia.

A cerca de 10 metros de distância do grupo, eu travei meus passos.

- Merda.

A onda de confiança que me atingiu não me deixava ter dúvidas; eles não só sabiam que eu estava ali, como também aquilo era exatamente o que eles queriam. Pouco depois, um dos homens parou de andar, virando em minha direção, e eu quase pude jurar que ele me via.

Os outros patetas fediam a dúvida, então eu já sabia com quem me preocupar. Ele franziu os olhos, como que tentando focar uma imagem borrada e eu me mantinha o mais imóvel possível, mal respirando. Toda a minha concentração em refletir a luz de forma impecável.

Até que ele pareceu desistir de querer enxergar através da minha miragem, e simplesmente arrancou a capa pesada, revelando uma armadura que cobria todo o seu corpo. Nem de longe ela tinha a forja intricada de uma veste sagrada, mas eu conhecia aquelas linhas retas e funcionais em qualquer lugar; as tais armaduras de aço da fundação GRAAD.

- Eu sei que você está aí, cachorro de Athena; posso te sentir. Vou ter que explodir essa planície inteira, ou vai aparecer por conta própria?

Ótimo... ele era cosmo dotado. Só gostaria de saber se ele iria explodir o lugar com cosmo ou canhões... Cinco contra um não era exatamente minha especialidade, então, eu precisaria resolver aquilo logo e sem deixá-los se aproximar demais.

- Por que sempre um cachorro? - eu perguntei em voz alta, desfazendo minha miragem aos poucos. Mas ao invés de simplesmente deixa-la se dispersar, eu desloquei a camada de luz, deixando-me cerca de 50cm para a direita do que quer que eles vissem. Aquilo exigia concentração, então, eu não ia me aproximar muito mais, afinal, aquela distância me daria a vantagem de uma possível esquiva que eu pudesse vir a precisar  - Tantas comparações mais criativas e interessantes para se fazer... Me pergunto se esses capacetes apertam seus miolos. Fast Fashion dificilmente consegue competir com Haut Couture, não é? - eu olhava media a armadura dele de forma petulante, comparando-a como a cópia barata que ela era da minha veste sagrada.

Permiti que um risinho de canto deformasse meus lábios, pois os patetas ao fundo que finalmente podiam me ver rapidamente substituíam a dúvida por um sentimento menos nobre. Minha camiseta era branca no começo do dia, mas agora colava em meu corpo de forma a quase revelar o que quer que eu usasse por baixo. Meu short cobria apenas o suficiente para que eu pudesse andar na rua, e não por acaso a água brilhava de forma quase sobrenatural em minhas coxas.

- Vejam se não é só uma vadia burra. - ele continuou com as cortesias iniciais - Pelo menos, vai ter valido à pena vir até esse fim de mundo

- Blá-blá-blá.... sempre a mesma conversa... - e agora eu estava irritada - Falando nisso, vocês não podiam tentar me emboscar um pouco mais próximo da civilização? Será um saco voltar pra casa depois de acabar com vocês. - pessoas costumam falar mais do que deviam quando provocadas. Eu só precisava que aquele brutamontes tivesse QI suficiente para receber um insulto.

- Mas aqui ninguém vai achar seu corpo depois. – a segurança que ele sentia só me deixava amis e mais incomodada. Não havia uma brecha sequer para lançar dúvidas sobre a capacidade dele - E ninguém vai te ouvir gritar durante...

Ooooookaaayyyy... e o prêmio para capanga creepy vai para... quem quer que fosse esse babaca na minha frente. Bom, sem mais surpresas, os outros quatro tiraram as próprias capas, revelando as próprias armaduras de aço.

Certo. Era hora de acabar com aquilo, e tinha que ser logo. Minha estamina dificilmente seria suficiente para segurar uma luta daquelas por muito tempo. Bem por certo, eu deveria dar meia volta e correr dali. Humanos normais nunca poderiam me alcançar, mesmo que fossem treinados. Mas me recusava a sair dali fugida e sem nenhuma informação útil que fosse.

Era minha primeira missão solo. Falhar tão miseravelmente não estava nos meus planos.

- Estamos brincando de “eu mostro a minha, você mostra a sua” agora? – eu ri, buscando minha tag em meu decote, piscando para o que emanava a maior intensidade de embaraço do grupo.

Mais que um deslize 0GwpCXu


Finalmente! A sombra de dúvida pairou sobre os meus oponentes. Minha garota estava em plena forma, o que significava que o metal claro brilhava delicadamente com na luminosidade que conseguia atravessar as nuvens de chuva.

- E agora cavalheiros... vamos dançar? – eu convidei com muito mais confiança do que sentia, destacando a cauda de Pavão, revelando dois ameaçadores leques metálicos.

A luta que se seguiu não foi bonita. E, sinceramente, eu não ligo. Com Caleidoscópio, eu derrubei logo os dois mais fracos, que convulsionaram por poucos minutos antes de perder a consciência. Manipulava a água de forma a faze-los escorregar, perder a visão, ou simplesmente me enxergar em outro lugar. Com Espectro eu fazia o possível para manter os dois maiores longe de mim.

Eu estava indo bem, mas estava ficando cansada. Para conseguir algo deles, iria precisar nocautear mais dois e deixar o último à minha mercê; aquele que ficara com vergonha logo no começo, e com certeza o mais suscetível à jogos mentais. Eu podia sentir

Finalmente, conseguira derrubar o cosmo dotado falastrão do começo, e me dei ao luxo de me sentir vitoriosa. Agora, o último e então, minha vitim...

Uma dor seca, pontiaguda e desnorteando explodiu na minha nuca, trazendo lágrimas aos maus olhos. Cambaleei alguns passos, me afastando do que quer que fosse aquilo, procurando recuperar meu centro. Sacudi a cabeça com força, afastando a tontura que ameaçava nublar minha mente.

- Você realmente achava que isso seria um passeio no parque, não é? – a voz soou ofensivamente entediada - Mas você é melhor do que eu esperava.

O choque de ver o inimigo que eu havia elegido como vítima final diante de mim ficou evidentemente estampado no meu rosto, mas eu não ligava. Eu havia cometido um erro grave. Ele não havia saído da sombra dos colegas em momento algum, mas agora, toda a insegurança e dúvida haviam desaparecido. Sorte? Ou ele estava brincando comigo aquele tempo todo?

- Mas você é bem mais nova do que eu havia pensando. – tão, tão cansada. Eu não ia conseguir arrancar nada dele. E ele também sabia disso. Inspirei fundo, varrendo o terreno à minha frente com os olhos - Nem pense nisso!

Antes que eu pudesse correr, senti um choque morder a parte de trás de minha coxa direita, caindo no chão. O último deles havia atirado qualquer coisa em mim, que descarregara mais watts do que eu poderia aguentar naquele estado; podia sentir toda a minha musculatura adormecer. Malditas latas velhas e seus truques. Eu precisava de tempo. Eu precisava pensar.

Eu precisava respirar e me controlar.

Preguiçosamente, o homem que eu agora imaginava ser o líder do bando, se aproximou de mim, se abaixando à minha frente. Eu não conseguia vislumbrar nenhuma emoção saindo do corpo dele, e não saber o próximo passo fazia meu coração bater tão forte que parecia que ia quebrar minha caixa torácica.

- Muito nova, de fato. – ele observou, pegando meu rosto com uma das mãos - Athena deveria ter vergonha de me fazer matar uma criança. – eu respirava o mais lenta e controladamente possível. Minha janela estava se fechando. O formigamento em minha perna indicava que logo eu já poderia me mexer. Só mais uns instantes agora.

- Você não precisa matar uma criança. – se eu não poderia contar com meu corpo, contaria com minha cabeça. No final, eu só poderia contar comigo - Você não precisa matar mais nenhuma outra criança. Athena admira o perdão; nunca é tarde para aceitar a sabedoria da deusa. – a mão dele roçando em minha pele dava arrepios. Só mais um pouco, e ele poderia descobrir que tipo de perdão eu tinha para ele - Eu tenho certeza de que você poderia nos ajudar a proteger o mundo. Qualquer informaç...  

O que quer que fosse a bobagem que meu cérebro vazia minha boca jorrar foi prontamente bloqueada pela forte pressão que ele aplicou em meu pescoço. Num reflexo, agarrei o pulso dele com uma de minhas mãos. Eu podia sentir o ar rasgando minha garganta por dentro, mas mantinha a minha respiração o mais controlada possível. Cada segundo valia ouro ali.

- Forma interessante de pedir por sua vida. – ele aplicava força suficiente para minha cabeça ficar ameaçadoramente leve, mas não o suficiente para me sufocar pro completo - Ou você poderia vir conosco. Crianças cometem erros; e vestir essa armadura foi apenas mais um deles.

Eu abri a boca com dificuldade, a voz saindo espremida, os olhos semicerrados. Naquele instante, eu era a imagem da consciência sendo perdida. E então, foi a vez dele de cometer um erro.

O cavaleiro de aço folgou minimamente o aperto em meu pescoço, se aproximando de mim.

- Imbecil. – eu sussurrei.

Em minha outra mão, que antes parecia inerte ao lado do meu corpo, eu mantinha uma das minhas caudas de Pavão, mas em sua forma de leque fechado, que nada mais era do que uma imensa faca.

Concentrei todo o meu cosmo ali, perfurando o tronco dele de baixo para cima, atravessando o aço como se fosse manteiga. Assim que me livre, comecei a correr com toda a força que pude imprimir em minhas pernas. Cosmo cobria meu corpo, criando miragens de mim mesma ao meu redor, borrando minha imagem.

E então, foi como se a chuva lavasse meu cosmo. Eu tropecei, caindo ao chão de bruços. Com as mãos, agarrava a grama seca, tentando me puxar para frente. Um chute em minha barriga me fez virar, encarando o céu. Os homens se agrupavam ao meu redor, que tossia e engasgava em sangue. O mesmo que atingira minha perna trazia uma espécie de rifle e sorria satisfeito. Bem no centro de meu tronco, na altura do diafragma, era possível ver minha armadura destruída, por onde o projétil havia atravessado meu corpo.

Eu encarava um a um, incrédula, enquanto meu corpo convulsionava. E então, meu corpo relaxou e minha cabeça tombou para o lado. O líder do bando me olhava como se fosse um cão indo para o abate e simplesmente virou de costas. Os outros dois carregavam o brutamontes ainda nocauteado e riam sobre o desperdício que era me deixar para os abutres comerem.

A chuva espalhava meu sangue e nem os deuses sabem quanto tempo eu fiquei imóvel naquela lama. Finalmente, tossi, e minha imagem tremeluziu. O rombo em minha armadura se deslocou para a direita, se tornando num ferimento lateral. Uma parte do sangue desaparecia, mas ainda havia o suficiente para assustar qualquer ser humano normal.

Eu me curvei sobre o machucado, abraçando-o como que para estancar o sangue. Minha aposta havia sido bem-sucedida, e eles caíram naquela morte novelesca. Um tremor correu minha espinha e eu senti o peito apertado. Bom, talvez não fosse tão ruim assim estar no meio do nada. Como eles mesmo disseram... ninguém iria me ouvir gritar...


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