Um treinamento a mais K0PiodO

O Santuário de Athena lembrava em algum aspecto a Grécia Antiga, com suas colunas, arabescos e estátuas. Mas ele abrigava os Cavaleiros e Amazonas a serviço de Athena, o que exigia uma proteção para o local . O recinto ficava em outra dimensão, uma dimensão portátil moldada pelo cosmo da Deusa, o que deixava o mesmo flutuando em um grande bloco sob os céus. Mas para aqueles com curiosidade suficiente para saber e ir atrás da informação, sabia que toda a cidade de Rodorio e os limites dela também flutuavam no vazio. E esta flutuação acabava formando algumas ilhas mutantes ao longo da borda do terreno em Rodorio.

Ali estavam Leila e Calíope, prontas para vestir suas armaduras e iniciar o combate. Leila aguardava o movimento de Calíope, sem mudar sua expressão tranqüila.

Quando criança, o maior trabalho que a jovem lira  teve foi o de localizar aquele lugar, que agora era quase seu lar.  A mulher a sua frente, era uma irmã mais velha. Não pela idade, mas pela forma como cuidava, ensinava e a aconselhava.
Leila a socorreu quando estava destruída e – talvez- viu nela algum potencial a ser treinado. E era aquilo que estavam fazendo ali... treinando.

Silêncio.

Algo bem dramático. Calíope mantinha uma distância de sua mestra.  Os braços posicionados a frente do corpo, um dos punhos protegendo o rosto e o outro a altura do nariz.  Impulsiona o corpo para a corrida, o punho direito toma a forma de ataque e quando próxima de seu alvo desfere o soco

Porém, Leila era uma oponente terrível, e Calíope sabia disso. Ela não parecia relaxar nem um pouco, pois quando Calíope  se aproximou para golpear, Leila deu um sobrepasso para a esquerda, rodando gradualmente o corpo e passando pela lateral do corpo de Calíope, indo rapidamente para as costas dela. A Amazona de Lira temeu pelo pior, quando Leila ergueu seu punho em forma de lâmina, com os dedos em riste. O  golpe lateral, pegava a clavícula direita da musicista.

Com golpe vindo em sua direção , Calíope  tentou se proteger. Com a mão esquerda, ela empurrava  e com a direita tentava segurar o pulso de Leila .

Para Calíope, era muito difícil lutar com Leila pois : 1 . Ela odiava ter que atacar a mestra. 2. Sabia o quanto a mulher era forte e esperta  e 3. sabia que nunca iria conseguir vencê-la.
Naquele dia, mesmo estando com a armadura, queria não usar suas técnicas, pensou até mesmo usar a lira, mas queria pensar mais no combate corpo a corpo.


Apesar da ação de sua aprendiz, Leila não demonstrou reação à manobra . Ao contrário, ela se esquivou dos braços de Calíope com um movimento simples, um ligeiro salto para trás. E então, Leila somente ergueu o punho esquerdo diretamente no estômago de Calíope, tão logo ela tentou agarrar sua mão. A mão, com os dedos em riste, atingiu o diafragma da amazona com violência, tirando o oxigênio dos pulmões dela. Leila se afastou, dizendo:


- Callie, eu já lhe disse isso antes. Nunca use todos os recursos em uma defesa. Bloqueie uma mão com outra mão. Um membro com outro membro, entendeu? - Leila falava com ar de professora, esperando um novo avanço.

A aprendiz por sua vez,  sente o impacto, sente o ar lhe faltar.  Apoia os braços nos joelhos e começa a puxar o ar. Escuta a professora , ergue e balança a cabeça positivamente. Leila era dura em combate, Calie não tirava sua razão, ao contrário, gostava daquilo, pois sabia que era para se tornar uma melhor Amazona.

Põe a mão na cintura, sente a lira, mas algo dentro de si ainda não queria usá-la.
“Pense no próximo golpe, ande logo.” Se cobrava em pensamentos. Dessa vez ela corre em direção a professora, da mesma forma que antes, porém para numa certa distância e, ao invés de desferir um soco, ela ergue a perna direita na altura da costela de Leila, na tentativa de um chute.
.

Percebendo  que sua discípula ouviu a instrução e  logo avançou em sua direção pronta para desferir um novo golpe. Leila novamente não se intimidou. Os golpes de Calíope eram bastante rápidos, mas a dourada  tinha algo de longo e circular com eles. Assim sendo, Leila acompanhou os movimentos de Calíope de forma espelhada, saltando ligeiramente para trás no momento do chute, para em seguida se abaixar deslizando em um golpe com os dois pés juntos no pé de apoio de Calíope.  Se aquele pé fosse atingido, Calíope cairia de costas no chão e Leila poderia finalizar a amazona.

O golpe da mais jovem falha, mais uma vez Leila se esquiva e dessa vez - se aquilo fosse uma luta verdadeira -  ela ganharia. O corpo de Calíope cai no chão, de olhos fechados , ela apenas sente a queda.


-Ok. Já sei que fui desatenta … -  diz antes de Leila apontar mais uma vez seu movimento.  

Não fica no chão, levanta rapidamente e volta ao lugar de origem. Dessa vez, ela decide por usar a Lira. Respira fundo, concentra uma pequena parcela do cosmo nas mãos, passando para o instrumento. Usando de sua habilidade aerocinética, Calíope consegue concentrar o cosmo na lira e com um acorde, liberar uma ventania em direção do opositor. E é isso que ela faz.

A mestra se posiciona novamente. Sente a manifestação cósmica e ergue seu cosmo também. Mas, desta vez, como reação, Leila cria uma barreira com o poder de sua mente. Telecinese.Uma das habilidades mais temidas de Leila e Calíope sabia por que. Leila apenas criou a sua frente um aparador, de modo a dividir a corrente de ar de Calíope em duas, fazendo com que o vento passasse por ela sem feri-la. Porém, ao executar este movimento, Leila ficava imóvel, o que poderia ser uma vantagem para a amazona de Lira.

Calíope  aproveita a concentração da mestra em manter o escudo e  corre o mais rápido que consegue  na direção da mesma, quando próxima salta a defesa de sua mestra, cai atrás da mesma apoiada pelas duas pernas e  aproveita que a amazona de áries está concentrada e com a mão aberta, desfere um golpe nas costas dela, de modo que não afetasse a coluna, mas que pudesse jogá-la para frente.

Dos lábios de Leila, Calíope pode ver um sorriso perante o avanço estratégico dela. Talvez a julgasse uma boa amazona, obediente e inteligente.A guardiã da primeira casa abre uma brecha, era verdade. Mas era uma brecha pequena, não facilmente explorável e Calíope a tinha aproveitado lindamente.Leila satisfeita, recebeu o golpe de Calíope sendo lançada para frente. E caiu da pequena ilha que treinavam. Mas não significava que iria acabar assim.

Leila parafuseou no ar, logo após receber o golpe e aplicou uma de suas técnicas assinaturas em pleno ar!


-Crystal Wall!

Leila configurou os "tijolos" de sua parede de modo a formarem uma escada, escada esta que Leila galgou rapidamente, ganhando altitude e vencendo a distância até a ilha.  Calíope via os tijolos se reconfigurando e se empilhando em volta da Ilha onde estavam.

A mestra aterrissa na ilha com calma e assim que pousa, arma seus punhos aguardando novas investidas de Calíope. A Ariana mantinha seu olhar impassível, mas a amazona de Lira sabia que as condições da luta haviam mudado drasticamente. Restava saber como reverter isto.

Calíope observa a ação da amazona num misto de: felicidade , por ter conseguido atingi-la, mas também de preocupação por ver que agora estavam presas juntas.
“Quando foi que isso ficou assim?” Se perguntava, pois a coisa nitidamente havia ficado séria. A jovem não esperava por isso.  Buscava olhar rapidamente todo o terreno, para poder saber onde ir.  Ela nunca venceria a mestra, essa era sua frustração e preocupação. Será que Leila esperava aquilo dela?

Cerro os punhos e pôs os braços à frente do corpo, numa pose de defesa e apenas aguardou Leila, mesmo sabendo que o inverso estava acontecendo.


-Aconteceu alguma coisa da qual não estou ciente, certeza - sussurrou para si.

Leila então ergueu sua mão para o alto. Ela deu pouquíssimo tempo para Calíope pensar. No instante seguinte, a ariana entoa:

-Stardust Shatter!

O golpe com milhares de lâminas saltou em direção à jovem Lira, mas isso não era o pior. As lâminas ricocheteavam na parede de cristal e voltavam, formando rapidamente um ataque em área!

Agora era certo. Calíope estava com sérios problemas. .

Com pouco tempo pra pensar e quase se desesperando, a jovem amazona busca  rapidamente com o olhar um local onde possa, pelo menos, proteger as costas. Encontra o escombro de uma pedra e se esconde ali. Pelo menos, e talvez, conseguiria ser menos atingida por trás.  Mas ainda havia as que viriam pela frente e lados. Pensou em só uma saída: concentrou o cosmo em suas mãos, como antes, assim voltou a transportá-lo para a lira e com duas dedilhadas  em duas cordas, causando uma ventania ainda maior que antes.  A finalidade não era atacar, mas fazer com que o vento rebatesse as agulhas a protegendo.

A estratégia de Calíope foi feita às pressas e no improviso, mas resultou em algo ao menos satisfatório. A amazona sabia que não seria morta em um treino, mas aquele ataque parecia algo letal de qualquer ponto de vista que ela olhasse.

Calíope conseguiu proteger as costas, e por conta de Leila ter usado pouca cosmo energia, as lâminas foram barradas pela pedra. Porém, as que vieram pela frente, apesar de desviadas ainda bateram diversas vezes no corpo da amazona, ferindo-a ligeiramente de forma individual, mas deixando seu corpo bastante machucado na totalidade, até que o ataque cessou.

Leila estava orgulhosa de sua discípula. Aquela manobra era difícil de escapar e Calíope tinha conseguido com êxito se defender. Ela começou a se aproximar da amazona, em uma velocidade controlada, ao mesmo tempo que cancelava suas técnicas e pronta para atacar novamente, mas não pode deixar de dizer algo a musicista:


-Você foi muito bem, Calíope. Essa saída foi bem inteligente. Neste caso, acho que precisamos fortalecer outras características em combate.

Leila terminou o avanço, e ergueu os braços para o alto. Desta vez, Calíope sentiu que Leila levaria a luta para o corpo a corpo novamente. Talvez era isso que ela queria dizer quando falava em fortalecer outras características em combate.

Os seus pequenos ferimentos, ardiam pelo corpo de Caliope, mas nada que ela não pudesse suportar .  Dessa vez Calíope não pensa em se defender, cerra os punhos , braços a frente do corpo, avança em direção a Leila. Estava ciente que sairia derrotada, mas ainda assim lutaria para provar a sua mestra que esta não fez uma má  decisão.  Talvez fosse essa falta de fé em si, o excesso de realismo que a tornasse fraca em muitos momentos, mesmo com sua teimosia - o que pra ela era força.

Leila não se abalou pelo avanço da amazona de Lira, apenas manteve sua expressão calma e neutra. A ariana então saltou em direção à sua discípula imitando o movimento e ergueu seus punhos, pronta para o embate. Com sua velocidade, era capaz de avançar e ainda sim, aguardar o movimento de Calíope.

Leila sorriu para si mesma. Um orgulho quase materno brotava de seu peito. Ela aguardava o ataque da discípula. Queria ver até onde Calíope poderia ir..
O maior problema de Calíope era a insegurança, a falta de acreditar em si e no que pode fazer, no que aprende. Sempre foi assim com a música e não poderia ser diferente com seu novo cargo.  Neste, inclusive, a insegurança se tornou maior depois que conseguiu sua armadura. Duas pessoas ajudam a aumentar esse sentimento: Leila e Giovanni.  A primeira, por ser uma Amazona de Ouro. O segundo por ser seu, odioso, pai.
De uma determinada distância, dá um impulso com as perna, pulando/saltando. Ao cair na direção de  contrair uma das pernas, como em posição de chute, mas quando se aproxima de seu alvo, numa acrobacia , muda de posição. Um dos braços esticados, punhos cerrados, Calíope tenta atingir Leila com um soco.

Leila sorri e bloqueia o golpe de Calíope,  desviando o soco. O movimento apenas frustrou a amazona de Lira, mas Leila não se deteve. Ela empurrou Calíope com o seu cosmo e esperou que a Discípula avançasse de novo. Estava esperando mais um movimento.

A sensação era de estar decepcionando sua mestra. Era uma sensação horrível, inclusive. De novo distante e vendo que Leila apenas esperava por ela. O que fazer?
Passa a mão na lira e começa a tocar, seu cosmo passa pelas cordas que não fazem som nenhum. Porém, as ondas que são feitas pelas cordas, misturadas ao cosmo passeiam até chegar a epiderme de Leila.


-Brathan -  sussurra sua cartada final.

Leila então ergueu sua mão e se defendeu, mas não ouviu som algum. A ariana simplesmente saltou para trás em guarda, e Calíope percebeu: Sua técnica acertar a Ariana. Leila estava vulnerável ao efeito do Brathan, fosse ele qual Calíope decidisse. Era hora de finalizar a luta.


Calíope, por dentro sentia uma alegria, mas por fora, apenas continuou tocando como se nada estivesse acontecendo. A amazona de áries passa a ouvir a melodia doce em sua mente,  a sentir algo quente, que trazia paz e acalmava seu espírito e coração, a ponto de desarmá-la . A qualquer momento Lira poderia mudar sua canção, mas Leila não era oponente para aquilo.  Esta sente seu corpo relaxado, e de repente, a canção para.  De longe Caliope sorri. Esperava ter feito o movimento certo.

Leila sorriu e abaixou os braços. Ela suspirou e se rendeu, logo depois aplaudindo a amazona de Lira, sorriu e caminhou até Calíope, dizendo:


-Era disso que eu falava quando disse de outras características em combate. Nós Amazonas combinamos nossas técnicas e movimentos para melhor surpreender os oponentes. Muito bom, Calíope.

Leila sorriu, e se aproximou recolhendo a armadura. Tinham terminado por aquele dia. Calíope conseguiu passar mais aquela fase. Mas antes que a Lira recolhesse suas coisas,  Leila perguntou:

Está um belo dia hoje. Quer aproveitar e beber algo?

Calíope estava feliz, seus olhos demonstravam isso. Assentiu com a cabeça para as palavras de sua mestra. Sabia que Leila ainda tinha tanto para ensinar, era grata por isso e estava disposta a aprender tudo aquilo. Recolheu também sua armadura.

-Depois dessa surra que eu tomei, aceito sim!

A jovem tinha Leila como uma irmã mais velha, tudo o que ela sempre quis ter.  Sorria e terminava de guardar suas coisas. Precisava de um banho, as agulhas do golpe de Leila ainda ardiam um pouco em seu corpo.


Leila deu um sorriso gentil e se aproximou da discípula, puxando-a para caminhar com ela. Saltou de volta aos limites do Santuário, subindo a escada. E então disse:


-Vamos de volta para seu alojamento em Rodorio. Assim você pode se arrumar e ficar bem para bebermos um suco ou outra coisa, certo? - Leila continuava caminhando ao lado de Calíope e então, perguntou, de súbito: -Como tem sido seus dias? Não temos conversado muito…

-Tem sido razoável.  É chato sentir as pessoas comparando com que você menos quer… - começou a caminhar com Leila. Ela era uma das poucas, amizades que tinha, das que podia desabafar. - Sabe, eu não quero viver na sombra pra sempre. - respirou fundo. - Fora isso, tem sido bom.

Ela não precisava dizer nenhum nome, Leila já sabia de quem se tratava.  A amazona de Áries suspirou antes de responder à Calíope. Apoiando sua mão na coxa direita, ela deu outro suspiro e disse:

-As pessoas só a comparam ao Cefeu por que você ainda é inexperiente. Mas eu tenho certeza que não é uma comparação de forma negativa. Eles esperam grandes feitos de você, assim como esperam dele. Você não deveria ficar tão chateada com o fato de ser comparada a um cavaleiro experiente, Callie.

Leila falava com propriedade, como se já tivessem tido essa discussão outras vezes. será que o resultado seria diferente desta vez?


Caliope faz uma face de desgosto com as palavras de Leila. Ela não acreditava em comparações positivas, pelo menos não quando se tratava do Giovanni. Continua o caminho, sabia que , assim como sua mãe, sua mestra tentaria convencer de que Cefeu agora era um bom homem.


-Desculpa, Leilinha. Eu não consigo acreditar nisso. Na verdade em nada que vem ou está relacionado a ele. Eu só espero, de coração, que minha mãe não caia no conto do vigário novamente…

Lira avança a frente de Leila e nos locais mais difíceis, tenta ajudá-la mesmo sabendo que a outra não precisa.

-Por  sinal, tô tentando fazer minha mãe entender que , mesmo estando perto, não posso visitá-la todos os dias. Ela tá com síndrome do ninho vazio… Eu tenho medo. Conversei com vovô e achamos legal ela se distrair no orfanato. O que acha?

Leila suspirou e encarou Calíope com um olhar um pouco carregado, para então, voltar a falar, de forma pausada e calma. Ela aceita a ajuda e agradece muda, com um movimento de cabeça. Era como se ela não conseguisse ser de outro jeito. Ela prosseguiu, apontando para Calíope com um dedo no coração dela:

-Callie. Não é suposição. Eu sei que é isso. Ninguém sabe da sua relação com ele, e as pessoas daqui do Santuário o encaram como Cavaleiro. Se quer sair da sombra dele, esqueça que é “Filha de Cefeu” e simplesmente fique melhor do que ele. Mas para evoluir, o melhor que você tem a fazer é parar com essa besteira de achar que tudo que ele faz é ruim para você, por que Athena o escolheu! Você está dizendo que Athena está errada, por acaso, Calie?

A Ariana tentava ajudar, mas sempre dependia de Calíope ouvir. De qualquer forma, estavam chegando perto do alojamento. Leila aguardava uma resposta, mas estava ainda tocando o peito da amiga com o dedo, como que para lembrá-la que aquilo que ela sentia fazia mal somente para ela.

-Não. Jamais contestaria algo… mas é que todo mundo fala dele… não sabem o que ele fez… - Calíope tentava argumentar. - Eu sei que tenho que ser melhor que ele, meu maior desejo é fazer todo mundo ver que sou algo a parte dele.

Estavam próximas ao alojamento, mesmo Leila tentando mudar sua opinião… bem, ela tinha os fatos, se agarrava neles e no que seu avô contava para suprir a mágoa dentro de si. Mágoa esta que a cegava…

Mestra, eu tento acreditar em tudo o que ele disse, o que dizem dele, mas não consigo. Como disse para minha mãe, talvez um dia isso passe, entretanto agora… Agora não. Te encontro onde?

Dá as costas para Leila seguindo em direção ao alojamento. Queria encerrar aquela conversa, relaxar e quem sabe depois treinar sua outra habilidade, a música. Aliás, também fazia uso dela nas lutas, deve estar sempre pronta e afinada

"Talvez, mais tarde , posso procurar um lugar para treinar. Já percebi que alguns se sentem incomodados e os compreendo."

Leila deu um suspiro, mas anuiu, concordando com a amazona e a deixou partir. Leila não parecia disposta a brigar, só a ajudar. De fato, quando Calíope começou a se afastar e questionou o local de encontro, Leila simplesmente respondeu, com seu sorriso costumeiro:

- Encontre-me na área de hortaliças de Rodorio, eu vou estar esperando você lá. E ponha uma roupa leve, estou planejando algo bem divertido.

E então, Leila a deixou partir, se movendo para um ponto fora da visão anterior de Calíope, desaparecendo também. Uma vez no alojamento, Callie começou a se arrumar, mas súbito, uma algazarra tomou conta do exterior, assim que a garota optara pelo que vestir. Algo que parecia ser uma briga, ou uma festa ou os dois. O que seria aquilo??

-Ok. Até!- Calíope seguiu para o alojamento. Precisava trocar de roupa, tomar e um banho relaxante e cuidar daqueles pequenos arranhões.

(Talvez) Por estar acostumada a ser só, ela não falava com com muitas pessoas, era somente o básico e educado. Foi até sua suíte , ela queria e gostava dessa independência.

Liga o chuveiro, deixa a água cair e lavar seu corpo. Tão logo que sai do seu banho relaxante, pega um short jeans e uma camiseta rosa claro, nos pés usava tênis allstar branco, bem simples. Apenas secava o cabelo quando ouviu um alvoroço vindo do lado de fora.

Cuidadosamente, abriu a porta do quarto para ver o que era. Seria aquilo uma briga?

O que Calíope viu foi uma grande arruaça. Vários homens lutavam entre si, disputando algo que parecia ser um pedaço de pernil. Era uma cena estranha, mas ela logo mudou seu foco para outra coisa. Ou pessoa.

O rapaz possuía os cabelos castanhos claros e curtos e lisos, com leves ondulações em suas pontas. Seus olhos eram azuis e brilhantes e um pouco finos, se afinando ainda mais quando ele sorria, como naquele momento. A pele dele era queimada de sol, e parda com uma aparência forte e saudável. Seu corpo era musculoso e forte, alto e definido, não apresentando nenhuma imperfeição. Deveria ter 1.80 metro e pesava algo em torno de oitenta quilos, o que mantinha seu corpo com aquela compleição. Ele vestia com as roupas típicas dos guerreiros do santuário, um colete de couro curtido sem mangas, duas ombreiras feitas de um metal bem menos nobre do que as armaduras, uma túnica e um par de calças de linho, em tom branco e azul claro. Botas de couro e braçadeiras completavam a vestimenta, e uma bandana azul na testa.

Ele se aproximou dos homens e começou a apartar a briga, mas sem encostar nos lutadores. Então, um deles avançou em direção a ele, pronto para golpear. O que a moça faria diante disso?


Para Calíope a cena era um tanto engraçada, mas ao mesmo tempo preocupante e irritante. Tentava entender o que estava acontecendo, porém seus olhos recaem um um rapaz que tentava apartar a briga. Ele prendeu sua atenção, ela não compreendia o motivo. Sentiu que ficará vermelha.
Logo um outro homem a faz perder o foco. Ele iria golpear o moço loiro. Num impulso, Calíope caminha rapidamente em direção ao grupo ,se colocando à frente do rapaz de orbes azuis. Faz um sinal de ‘pare ‘ com as mãos, e o homem que atacaria poderia sentir que entre eles havia uma parede de ar.


-Chega! Aqui não é lugar pra isso. Se querem brigar, vão lá pra fora. - seu semblante era sério, igualmente seu tom de voz.

O rapaz agiu rapidamente antes que a amazona se deslocasse, de modo que antes do golpe acertá-lo, ele se esquivou, para que o bruto colidisse com a parede de ar em cheio. Ao verem a amazona, eles decidiram que bastava de briga e se afastaram, murchos. O rapaz então sorriu para ela e disse:

-Puxa, obrigado… Você me salvou de uma enrascada ali atrás.

Aquele sorriso era como de um Adônis, era muito pleno e belo. Ele parecia realmente agradecido pelo gentil gesto de Calíope. Já ela, como estava?


Calíope observa o afastamento de todos os outros caras. Então dá de cara com um tão sorriso resplandecente que deixa o coração dela alegre. Retribui o sorriso, de uma forma mais tímida.


-Ah, não foi nada. Não queria confusão por aqui e eram muitos… contra um só… injusto - seu cérebro tentava não embolar as palavras. Por dentro estava queimando de vergonha.

Aquilo acontecia, de forma mais branda, mas com aquele rapaz estava sendo diferente e ela nem conseguia entender o motivo.

O rapaz sorriu novamente, profundamente grato. Ele olhou para ela e sorrindo ainda, disse:


-Não é? É justo interferir nestas coisas quando isto ocorre. Meu nome é Lumia, senhorita Amazona. E qual é o seu? E mais importante, como posso agradecer por ter salvo minha vida?

O olhar combinava com o sorriso. Era difícil resistir ou desviar o olhar. O que estava acontecendo?

Seus olhares se encontravam. Era como se ele tivesse feito algum feitiço no qual ela não conseguiu escapar.


-Meu nome…- demorou alguns segundos para processar a mensagem e entender o que devia fazer. - Meu nome é Calíope…- A jovem estava tão desconcertada. - Você já agradeceu… não… é, já agradeceu. - lembrou então se Leila, no segundo que seu cérebro se desvencilhou daquele olhar e sorriso. Entretanto, não conseguia se mexer.

Estava sentindo a mesma sensação de quando tinha que ser apresentar em algum recital. Um frio na barriga, uma vergonha tomando conta de si.

Lumia sorriu novamente e ainda com seus olhos semicerrados, ele disse, mas já começando a recuar:


-Eu realmente estou profundamente grato. Vou pensar em algo para agradecê-la. Mas por hora, a deixarei em paz. Foi um prazer Calíope!

E com uma mesura e um aceno floreado, Lumia partiu, deixando a moça ali sem saber o que fazer.

- Digo o mesmo… Foi um prazer, Lumia! - Diz tímida vendo o rapaz ir embora.

Okay, Tudo bem. O que havia acontecido ali? Questiona-se enquanto volta ao seu aposento. Já neste, se senta na cama e começa a rir sozinha. Pensava o quanto foi boba.
- Calíope, que idiota! - Passa a mão pelos cabelos, não acreditava em como havia agido. - Bem, deixa ir encontrar Leila.

Pega uma pequena bolsa que estava na cabeceira da cama e segue em direção ao lugar marcado com Leila. Tinha um sorriso bobo no rosto e não conseguia parar de pensar naqueles olhos azuis.