No interior do Pilar do Atlântico Norte, o general terminava um almoço frugal e suficiente. Ele inspirou fundo, se levantando o alinhando às roupas.
Foi o som que a havia denunciado. Não o cantar do cosmo, não uma melodia mística, muito menos notas elaboradas.
O simples som de uma voz muito preocupada, que insistia que tinha a obrigação de anunciá-la.
- Dimitri, estou entediada!
É era assim que a general do Atlântico Sul invadia os aposentos privados do seu superior em patente, sendo seguida por um desanimado serviçal, impedido de fazer seu trabalho.

Calmamente, Dimitri põe seus óculos e se vira para General:
- Faz só seis dias que estamos na fortaleza submarina. Semana passada você venceu novamente aquele torneio internacional de dança, deu dezenas de entrevistas, levou as crianças do orfanato para aquele parque temático e... ah! Comandou uma legião de Sirens na batalha contra Maxwell!
- Todos nós estamos fracos, feridos e cansados, ficar nos pilares é a forma mais rápida e efetiva de curar nossas escamas e nós mesmos. Seja paciente.
O General vai até uma prateleira, pega um livro e senta se de novo:
- Se quiser ler ou conversar, estou à disposição. Fora isso procure o Akasha, ou Maya. eles estão tão enérgicos quanto você.
Obs: Maya: NPC General Cavalo Marinho. Garotinha de 12 anos
Alice não ligava nem um pouco para as bandagens que envolviam sua testa e seu braço esquerdo.

- Exatamente; semana passada eu tive um mundo de ocupações. E agora nada. - ela colocou as mãos na cintura, deixando escapar um sorriso perverso assim que Dimitri desviou os olhos para seu livro. Incomodar o Dragão ainda era um excelente passatempo - Você é quem quis ser meu agente no mundo dos humanos. Responsabilize-se!
O tom mandão era inacreditavelmente convincente; digno de uma Diva.
Dimitri deixa escapar mais um suspiro, ela claramente o estava atormentando, ele sabia que não se livraria dela fácil assim.

- Exatamente. E por ser seu agente tenho que cuidar da sua saúde, portanto sem loucuras até estar totalmente curada.
Ele dá uma boa olhada para irmã de armas. O ombro parecia estar quase curado, a forma como batia o pé quando estava chegando mostrava que o fêmur quebrado finalmente tinha ficado melhor e pela entonação petulante as costelas quebradas não pressionavam mais os pulmões. Isso era bom, mas o golpe na cabeça ainda preocupava o Supremo General.
- Se for boazinha e se comportar, te levo pra jantar em Viena quando tirar as bandagens...
Dimitri finalmente percebe o serviçal temeroso próximo a General.
- Está tudo bem Lionel. Nem mesmo eu conseguiria pará-la. Pode se retirar.
O servo, mais aliviado faz reverência ao dois e se retira do quarto.

- Cuide da minha saúde impedindo que eu enlouqueça de tédio. - Alice girou os olhos, se deixando cair numa poltrona - Jantar em Viena?... Só se houver teatro depois. - e as exigências continuavam. Era difícil de acreditar que aquela princesa mimada era uma guerreira.
Tocou as faixas na cabeça delicadamente.
- Quem sabe eu não curo mais rápido se você me dar um beijo? - ela divagou alto o suficiente para ser muito bem ouvida, acenando para o serviçal que se retirava com um sorrisinho malicioso nos lábios.
Os boatos a divertiram por mais uns dois dias.

Longe dali, repousando seu braço cansado e ferido sobre um confortável apoio de couro de uma poltrona, Andrus ouviu o balbuciar constante de Alice, e suspirou, movendo seu corpo em desconforto. Ela era competente em combate, mas irritantemente petulante em situações de paz. O rapaz gelado voltou novamente seus olhos para o livro que lia, sacudindo a cabeça negativamente.

Sentado sobre uma grande pedra apoiado sobre sua lança, Akasha mantinha-se concentrado, e mais sério do que seus companheiros gostariam de vê-lo. A emanação de cosmo no Pilar Atlântico Norte era constante, e ele já sabia do que se tratava...
“ - Faz pose de homem sério linha dura e impiedoso. Mas quando ela está por perto não importa onde e como: ele se move para vê-la. E aquele estepe de triciclo também está lá. Deveria dizer a eles?" E o general Marina então finalmente abriu os olhos e olhou para O mar sustentado acima de sua cabeça deixando escapar um suspiro bem-humorado.

O supremo general fecha o livro fazendo um barulho representando sua leve indignação. Ele volta seu olhar para Alice.
- Já disse pra não fazer isso. Não só protegemos o povo Atlante. Evitamos também escândalos que possam abalar nossa autoridade. Toda a vez que você faz esse tipo de brincadeira eu tenho que aguentar risinhos das servas, e sermão da Iris sobre "Discrição romântica entre oficiais de patente superior" da próxima vez vou mandar ela pra você.

Bingo.
Eu sorri vitoriosa para ele e Dimitri poderia facilmente ler "objetivo atingido" em minha expressão.
Me levantei da poltrona, esticando as costas.
- Já que você vai sofrer com os boatos, podia aproveitar pelo menos... - eu fiz beicinho. Aquela maldita habilidade de Mastro de Aquiles dele me impedia de me divertir mais.
- Mas já que não me quer aqui, vou seguir seu conselho e achar outra pessoa para brincar. - eu girei os olhos, ficando emburrada. Se ele quisesse minha atenção de novo, teria que vir pedir.
Pelo menos, nas próximas 24 horas.
Agora... Onde estava meu segundo alvo favorito?...
Eu assobiava divertida, me encaminhando para o pilar do Ártico.

Neste momento, Andrus bebia um scotch gelado, movendo sua mão em círculos, mantendo a bebida gelada com seu cosmo. Ele sabia o que viria, e precisava de uma dose para aguentar. Logo, ela chegaria nele.

Alice chegou em seu próximo destino de uma forma um pouco mais silenciosa dessa vez. Pela falta de recepção, ela já se imaginou aguardada.
Ao ver Andrus bebendo, ela podia ouvir as notas agudas em seu cosmo. Alguém que antevia uma situação problemática.
Alice riu, sentando-se diante dele
- Nenhum para mim? - ela indagou, apontando com o queixo para o copo na mão dele.

Andrus apenas ergueu os olhos para a amazona. Movendo seus dedos, ele puxou um copo gelado para a direção dela, usando o gelo em volta dele como catalizador. Ainda sem dizer nada, ele serve o scotch para ela, que trinca no copo ao cair nele. Andrus então olha para Alice. Seus sentimentos tinham novamente, se transformado em gelo.

Alice pega o copo com um que de surpresa; não esperava uma boas vindas como aquela.
Do pouco que conhecia do colega do Ártico, já estava preparada para se servir.
Tomou um gole e a bebida estava gelada o suficiente para mudar de consistência. Ela não era exatamente uma garota de scoth, mas para aquele, ela poderia abrir uma exceção.
- E seu braço? - ela perguntou casualmente entre um gole e outro. Andrus teria perdido aquele braço, fosse ele um guerreiro menos competente.

- Está melhor. E seus ferimentos?
A voz maquinal e mecânica dele ressoava como o som do mar quente se chocando com rochas frias. Ela como o som do gelo se partindo. Não havia alteração de humor ou nem sequer parecia demostrar preocupação. Apenas... Era.

- Nossa! - Alice arregalou os olhos em satisfeita surpresa - Duas frases de uma vez?! Quantos desses você já bebeu? - ela levantou o copo rindo antes de tomar mais um gole - São apenas alguns arranhões. O que me incomoda mesmo é o tédio.
Ela jogou a cabeça para trás, os longos cabelos rosados balançando quase tocando o chão.
- Sou capaz de enfeitiçar uns soldados só para dar umas risadas... - a ideia pareceu curvar os lábios dela num meio sorriso.

- Três. - Andrus respondeu sem entender ou sem se importar com a piada. E então, ele volveu os olhos para ela. E simplesmente respondeu:
- O artigo 46°, inciso 2 alínea 3 diz que é terminantemente proibido o uso de habilidades em servos de Poseidon, sobre pena de reclusão ou morte, dependendo da habilidade em questão. Então, eu desaconselho fortemente esta prática, a menos que queira ir presa, onde acredito que seu tédio seria pior. - Ele simplesmente citou o texto com perfeição, sem notar o teor da piada novamente. Ou, sem se importar com ele.

Alice terminou de virar seu copo, descansando-o sobre a mesa. Olhou para Andrus com uma sombra divertida em seus olhos, deixando a cabeça cair para um lado, uma mecha de cabelos escondendo uma parte de seu rosto
-Ah é? - ela deixou escapar num sussurro - E quem iria me prender, senhor juiz?
E ela deu um passo.
Apenas um passo.
Mas mal seu calcanhar tocou o chão e foi como se o próprio ar vibrasse ao seu redor. Apenas uma pequena onda de oscilação, capaz de acariciar a pele do general gelado como uma pluma suave.

- Alice... - Andrus congelou o quarto inteiro. O Scotch virou uma pedra esquisita e feia, quando toda a água contida nele se transformou em gelo e cobriu as paredes. Ele a encarou com um olhar frio e advertiu:
- Faça isso novamente e serei forçado a convocar a Tandh.

Ao contrário de qualquer ideia de sanidade, Alice riu.
O pé que havia avançado deslizou graciosamente para a direita e para a esquerda sobre o gelo.
- Não seja assim General... Convocar um Tandh por causa de uma brincadeira arruinaria vossa reputação. - o excesso de educação só piorava o tom de troça - E quem iria supervisionar nós dois? Poseidon?
Ela marcou sua pergunta riscando um círculo delicado no chão com o mesmo pé.
- Certas coisas são melhor resolvidas entre dois.
O cabelo dela se abriu um leque com o giro delicado. O perfume foi lançado ao seu redor, mas nenhuma fagulha de cosmo dessa vez.
Apenas a técnica avassaladora da Dama do Mar

Andrus explodiu um soco na própria face e simplesmente criou um bloco de gelo em volta de si mesmo, barrando a visão da sereia. Ele detestava a habilidade dela e chegava a extremos para evitar.

- Grosso. - Alice observou o bloco de gelo, girando os olhos.
Para o azar de Andrus, ela tinha tempo e nada para fazer com ele. Alice terminou mais um giro, apoiando-se sobre o bloco de gelo, como se fosse um bar, espreguiçando sobre a superfície
- O que fazer contigo? - ela tamborilou os dedos no bloco e começou a murmurar uma melodia lenta e simples.
Alice girou em torno do bloco, sentando-se ao lado dele, alcançando a altura onde estaria a orelha de Andrus.
Lentamente, ela começou a subir as oitavas de sua melodia. E cada oitava vinha acompanhada de uma delicada camada de cosmo

O bloco começou a trincar e a ameaçar implodir, mas não obteve reação. Andrus sabia o poder da amazona e provavelmente usara o bloco como subterfúgio.

Alice continuou sua melodia, agora entrecortada por risinhos. Os trincos já eram suficientes para um de seus maiores trunfos; sua voz.
- Vamos, Juiz... Não tem graça se você não participar... - enganava-se quem achasse que precisava ver a sereia para ser enfeitiçado. Afinal... Elas eram ou não famosas por suas vozes?
Alice colocava camada sobre camada de cosmo, até que riu, e foi como o tilintar de vários pedacinhos de cristais
- Vamos juiz... Olhe pra mim. Só uma espiadinha. - ela o convidou, começando a se afastar do bloco, parando de frente para ele - Eu vou te mostrar algo interessante...

Andrus (ou o bloco) não se mexeu. Os trincos continuaram, até que muito pó de gelo se fez, salpicando água gelada na sereia. Ao término da névoa, Alice viu os lóbulos do atlantes sangrando. Ele destruira os próprios ouvidos.

Alice ainda estava focada em Andrus quando sentiu uma corrente elétrica percorrer toda a sua coluna, deixando a general sem força para se sustentar ficando se joelhos. Só uma pessoa conseguiria fazer algo assim...

- Ah ótimo... – Alice girou os olhos - E a culpa é sua. - falou pausadamente para que Andrus pudesse ler seus lábios

Iris tinha sentido a perturbação, na verdade todos tinham sentido.

Andrus simplesmente olhou para Iris e disse, sem alteração de voz:
- Alice veio aqui e decidiu que era uma boa ideia dizer que estava tão entediada que poderia usar suas habilidades em soldados. Eu tentei convencê-la que era errado e ela decidiu usar em mim.

Alice se levantou com dificuldade, apoiando-se na cadeira. Aquela força desnecessária era característica.
Propositadamente, ficou de costas para Andrus
- Eu estava tentando mostrar algo interessante ao nosso querido juiz. Sobre como lidar com situações adversas. - expirou contrariada - Mas, extremo como sempre, ele chegou à conclusão que evitar o problema é mais simples do que lidar com ele.

- Não viemos aqui para treinar ou ferirmos um ao outro ainda mais! Nos vie... Viemos...
Iris perde um pouco o equilíbrio e se segura numa parede. Ela ainda estava se recuperando, seu sistema respiratório e nervoso tinham sido gravemente afetados pelo líder das tropas de Lord Maxwell.

Alice apara Iris, mesmo que sob possíveis protestos da ruiva.
- Ok, ok, se acalme... - ela ri, apesar de todo o absurdo da situação - E não brigue comigo. Vocês dois foram que saíram se machucando. Eu não fiz nada remotamente ofensivo

Andrus caminhou até ela e segurou suas costas, ajudando Alice também a se erguer.
- Viemos descansar e recuperar nossos ferimentos. E é isso que vocês duas devem fazer. Alice, se recupere ou ficará mais entediada ainda de estar presa a uma maca. E Iris, não seja tão enérgica. Isso vai esgotá-la ainda mais.
Eu vou procurar medicamentos também.

- Eu não estaria nem perto de uma maca se vocês dois não fossem histéricos. - logicamente, a última palavra seria dela

- Eu não estaria aqui se não fosse pelo rompante de vocês.

Andrus ignora as duas e as deixa discutindo.

- Coloque sua frase no singular. - Alice insistiu - Foi ele.

Ela respira fundo e recupera o equilíbrio.
- Não me interessa quem foi! Acabem com isso agora! Alice você vem comigo.

Alice olhou feio para Andrus, articulando com os lábios "ISSO-NÃO-ACABA-AQUI", e depois voltou a brigar com Iris.
- Qual a emergência, mulher? Viu suas olheiras no espelho?