Edifício da Barrick Gold Corp. Grand New York. 3:30 da manhã
A chuva batia forte nas janelas dos enormes arranha-céus da cidade de Grand New York, uma das maiores megalópoles de toda a América. A cidade era uma profusão de banners com neon e tecnologia, cores fluindo o tempo todo, com suas flechas iluminadas provenientes dos veículos em movimento e toda a sorte de símbolos e anúncios nos painéis que ocupavam grande parte da configuração, sendo de todas as formas e tamanho, variando desde luminosos indicando comércios funcionando até fachadas inteiras de prédios coloridas anunciando produtos e funcionalidades uma após a outra. Tudo isto dava um ar de rotatividade e de eterno movimento à cidade, e nada poderia fazer mais sentido, pois Grand New York jamais parava.
Ocupando grande parte da costa americana, Grand New York tinha edifícios gigantescos, que ocupavam quarteirões inteiros, disputando tanto espaço quanto atenção de todos os consumidores. Lá se comprava e se vendia de tudo, desde itens simplórios de vestuário até computadores ultrapotentes para outras grandes corporações.
Apesar da chuva, diversas pessoas eram vistas caminhando nas ruas sem parar, cobertas por seus guardas chuvas com leds luminosos em suas extremidades. Vendedores de comércios ambulantes se abrigavam da água corrente em seus próprios estandes, de braços cruzados aguardando clientes esfomeados ou pessoas interessadas em seus artigos.
Acima de tudo, ficavam as sedes dos conglomerados, com suas janelas dos andares administrativos, sempre ligados, eternamente atrás de seus balanços, contagens, cálculos e lucros. Em cabines mais baixas, funcionários com camisas idênticas e crachás trabalhavam em baias individuais, digitando valores incansavelmente, produzindo resultados para o gordo faturamento da empresa.
Em uma destas sedes, porém, o expediente estava em seu horário de troca de turnos e pelo menos por duas horas, as luzes daquele edifício estavam apagadas. Ele ficava praticamente invisível sem suas janelas iluminadas competindo com o brilho das outras empresas e outdoors ao seu lado, e sem sua iluminação frequente, o grande arranha-céu parecia tímido e apagado entre seus irmãos de construção.
Em uma das poucas janelas iluminadas, uma grande panorâmica que pegava a lateral do prédio, a figura de um homem se recortava contra a luz. Ele estava contemplando a cidade com um ar absorto e um copo de bebida em sua mão.
Nathan Bennett, diretor executivo e acionista da Barrick Gold, estava observando a cidade, enquanto tomava um copo de uísque com gelo artificial.
Nathan estava desesperado. A Barrick Gold Corporation era a maior multinacional mineradora destinada à extração de ouro no mundo, fundada em 1983 e com sede na cidade canadense de Toronto. Mantinha mais de 27 minas operativas atualmente em todo o mundo, situadas em Papua Nova Guiné, EUA, Canadá, República Dominicana, Austrália, Peru, Chile, Rússia, África do Sul, Paquistão, Colômbia, Argentina e Tanzânia. Seu lucro anual era de 7.7 trilhões em ouro, sendo que cada onça de ouro equivalia a 500 dólares. Nathan sabia esse discurso todo de cabeça e mais de uma vez o havia repetido em reuniões com os outros acionistas. Porém, a Barrick enfrentava uma das piores crises do mercado. As jazidas de ouro estavam acabando e uma empresa de químicos já estava conseguindo fazer com o ouro o que já faziam com outros metais: Sintetizá-lo e produzi-lo em larga escala, o que interferia no preço do minério radicalmente. A crise obrigava a empresa a medidas mais arrojadas, e o presidente Thomas Dushnisky tinha deixado bem claro que Nathan devia achar uma solução para a crise ou ele faria parte do próximo corte de funcionários do quadro. Além de tudo isso, ele detesta uísque e estava tão preocupado que emborcava a bebida amarga, como se ela o ajudasse a pensar em algo.
Mas Nathan tinha um trunfo na manga, afinal de contas. Ele era conhecido por sua eficiência e rapidez de raciocínio. Logo, ele passou a buscar alternativas. Recentemente, ele ouvira falar de um pescador sul-africano que havia encontrado um minério esquisito. Parecia cobre ou estanho, mas com muito mais elasticidade. Nathan foi pessoalmente até o homem e trouxe uma amostra do metal. Os laboratórios contratados para medição da pureza do metal fizeram uma pesquisa e Nathan aguardava os resultados da mesma até àquela hora. Era outro motivo de seu desespero e ele contava os minutos em agonia.
Foi quando a Dra. Ingram entrou na sala apressada e deixou os relatórios sobre sua mesa. Ela parecia sem fôlego quando disse:
- O que o Senhor achou... É incrível!
Nathan fez um sinal para que ela prosseguisse. A doutora tomou fôlego e apresentou um relatório que estava sobre os outros, e continuou a falar:
- Esse metal... Senhor Bennett. Esse metal é... Mais valioso do que tudo que já encontramos. É uma liga diferente de tudo que já vimos. Ela junta os compostos químicos do ouro, do cobre e do zinco, tem componentes próximos do estanho, mas ainda sim é rígida sem perder elasticidade. Boa condutora de energia e extremamente tenaz. Suas aplicações são infinitas. É uma matéria-prima impressionante!
Nathan olhou satisfeito para os resultados de sua pesquisa. Sua vida estava salva, a companhia estava salva. Na verdade, com a descoberta daquele material, chegaria à presidência sem dificuldade se tentasse galgar seu caminho até lá. Ele teria riqueza eterna para ele e para toda sua família por gerações. Ele esboçou um breve sorriso e disse, volvendo os olhos para a doutora.
- Excelente Dra. Ingram. Pode descansar e ir para sua casa comemorar. Teremos muito champanhe na próxima reunião que fizermos. Tenho certeza que ambos conseguiremos promoções com este achado e eu vou cuidar pessoalmente da sua. Deixe os resultados aqui e pode se retirar.
Ao ouvir falar em promoção, a doutora sorriu contente e assentiu com a cabeça, saindo. Nathan sentou em sua cadeira e deu um suspiro aliviado. A noite parecia ótima agora, mesmo com tantos relâmpagos. Ainda bem que já tinha dado a ordem para algumas ações extrativistas começarem na Cidade do Cabo, mesmo antes de confirmar a origem da liga. Tirou de seu bolso a pedra com um brilho ligeiramente dourado e ficou a admirando. Aquela pedra faria sua fortuna.
Um dos relâmpagos caiu com mais força do que deveria e atraiu a atenção de Nathan para a janela panorâmica, na qual ele viu um vulto parado.
Nathan deu um salto de sua cadeira e piscou várias vezes olhando para a janela, mas não havia mais ninguém. Passou a mão nos olhos. Devia estar bêbado pelo uísque ou com sono pela hora avançada. Era hora de descansar.
Ao se levantar, virou de costas e pegou os relatórios, se preparando para sair. Voltou-se para a porta e então, viu uma pessoa parada diante dela. Sobressaltado, ele colou suas mãos no batente da mesa, procurando o botão de pânico, mas o sujeito em um piscar de olhos estava sobre ele segurando-o pelo pescoço. Nathan arregalou os olhos e engasgou, quando o homem o ergueu do solo sem dificuldade. Era um rapaz magro, alto, de aparência macilenta, com os olhos de um amarelo doentio. Ele tinha profundas olheiras e seu cabelo negro era sujo e embaraçado. Ele sorriu, mostrando uma boca torta, com dentes amarelados e disse:
- Olá, Nathan. Eu gostaria de informações sobre uma coisinha que você achou.
Nathan tentou ver suas roupas. Talvez um assassino de outra companhia, alguém enviado como espião industrial, mas ele usava um manto negro e botas escuras, sem sinais do que estava por baixo. A janela rugiu e Nathan notou que estava aberta.
– Como você chegou até aqui? Estamos no 70º andar!
- Creio que esta é a última de suas preocupações, Nathan. Eu quero isto aqui.
O homem magro apanhou o metal de cima da mesa de Nathan e o agitou diante de seu rosto. Ele sorriu e disse, ainda apertando o pescoço dele com uma força que estava começando a fazer a respiração de Nathan ficar difícil. Respirar doía.
- Você não faz ideia do que achou, não é, Nathan? Isto é um metal lendário, um metal que povoou a Era antiga, que armou deuses e guerreiros míticos. Isto é Oricalco.
Nathan olhou estupidificado para o metal. O homem magro prosseguiu:
- Você me diz onde achou isto e eu deixo você viver para contar a história, o que acha?
Nathan não tinha motivo para desacreditar de seu algoz naquele momento. Seu pescoço estava quase se partindo com a força e ele achou mais prudente aceitar a oferta.
– Está bem, eu falo! Mas não me mate!
O homem soltou o aperto e Nathan caiu no chão resfolegando. Ele tossiu algumas vezes e disse, depois de tomar fôlego.
– Eu achei isto na África do Sul, em uma jazida da Cidade do Cabo. - Ele deu o endereço exato da localização ao homem, que apanhou os relatórios e os guardou dentro do casaco.
- Obrigado, Senhor Nathan. Agora eu devo me ausentar. Ah, e nada pessoal, mas ninguém pode saber que estive aqui, portanto...
– Você disse que iria me deixar viver! Nathan tentou levantar para apertar novamente o botão de pânico.
- É eu disse. – Disse o homem. E agarrou a cabeça de Nathan, esmagando-a como uma fruta podre. - Mas eu sou um mentiroso, sabe?
Cruzamento de vias principais Rota 77 e 92 dos Estados Unidos. 5:27 da manhã.
As estradas estavam obstruídas naquele começo de dia, gerando engarrafamentos de caminhões de entrega e atrasos nas conclusões de serviço. Barry Jefferson Flanders, o BJ, estava preocupado. Nunca tinha visto um acidente daqueles. As vias estavam completamente obstruídas depois que dois caminhões de minérios tinham sido descarrilhados e cruzados no meio da via. Os guindastes trabalhavam desesperadamente para livrar a passagem, mas o serviço corria lento.
O mais estranho, porém, era o fato dos caminhões estarem completamente vazios. Sua carga tinha desaparecido sem deixar rastros. O que diabos havia a levado? As únicas testemunhas nunca contariam a história, pois os dois motoristas não tinham sobrevivido à batida. Sabe-se lá onde essa carga andaria.
Vila de Rodorio. Localização desconhecida. 13:30 da tarde.
- Com isto, eles devem chegar em breve.
Zanpako terminou de selar a última carta e colocou-a em uma das sacolas de couro abaixo dele. Logo, elas seriam enviadas aos cavaleiros que deveriam recebe-las logo. Ele baixou os olhos para a sua carta e leu novamente o texto, idêntico ao das cartas que tinha acabado de selar:
Sagrado Santo de Athena.
Você está sendo convocado para uma reunião extraordinária no Santuário da nossa Deusa. A reunião deverá ocorrer cinco dias após o recebimento deste comunicado, portanto rumem até o Santuário com brevidade. A sua presença e a sua vestimenta são de suma importância nas defesas do nosso templo e da nossa Deusa viva e encarnada, Athena.
O não cumprimento desta ordem acarretará em uma sentença de reclusão em Knossos, a prisão do nosso templo.
Contamos com a presença de todos.
Atenciosamente.
O Grande Mestre.
Zanpako suspirou e acariciou seu pingente, olhando pela janela. O Santuário flutuava incólume e cobrindo parcialmente o sol daquela tarde. Mas ele estava inquieto. Afinal de contas, porque convocar uma reunião como TODOS os cavaleiros? Seria o começo de alguma coisa ruim?
[Fim da Introdução]
É isso aí, galera. Post de introdução feito. Espero suas postagens para darmos início a esta eletrizante aventura. Que o cosmo de todos queime!
Última edição por Youta em Qui Dez 22, 2016 9:33 pm, editado 1 vez(es)